4/11/2020, George Galloway,[1] RT
Legenda: Dos arquivos. O presidente Donald Trump sorri durante evento de campanha no aeroporto internacional da capital, Lansing, Michigan, EUA, 27/10/2020
©REUTERS/Jonathan Ernst
Donald Trump venceu a eleição presidencial nos EUA, porque não perdeu a eleição. Mote insurgente clássico, ele sempre pode argumentar, corretamente, que foi presidente guerrilheiro, ainda que tenha agido, no máximo, como gorila truculento.
Nem o poder do estado profundo norte-americano, nem níveis sem precedentes de difamação, ofensas, ódio e raiva vindos das classes liberais conseguiram quebrar Donald Trump. Os quatro anos do vergonhoso ‘Russiagate’, a encenação de impeachment e o Relatório Mueller, todos tentaram de tudo. E também fracassaram.
Em 2020, Trump recebeu mais votos que em 2016. O suposto ‘racista’ parece ter arregimentado número ainda maior de eleitores nas ‘comunidades de cor’, do que na primeira eleição. O homem que se diz que usa a ‘palavra-com-N’ (de nigger, palavra considerada fortemente preconceituosa e ofensiva), e para quem “Vidas Negras não Importam” mereceu dessa vez ainda mais votos de homens negros. O sexista vulgar mereceu mais votos de mulheres. O homem que ‘engaiolou’ crianças latinas nas fronteiras viu crescer o número de votos vindos de latinos e latinas. De fato, a votação pró Trump cresceu em todos os grupos demográficos por gênero e etnias, exceto no grupo dos homens brancos – precisamente o pessoal ao qual se diz que ele teria apelado, com todos aqueles arrotos fermentados de Coca e hamburgueres.
Virtualmente todos os ‘analistas’ nos EUA acabaram levando ovada na testa. Não houve ‘onda azul’.
O partido do presidente – que é o que é – ganhou assentos na Câmara de Representantes, e a bancada dos Democratas manteve-se chata e sem novidades como uma panqueca.
O presidente Donald Trump tem casacas. Quem diria, hein?!
Até os mais tóxicos dos homens do presidente – Lindsey Graham e ‘Moscou Mitch McConnell’ – triunfaram, saltando por cima do circo que Trump faz à sua volta.
O golpe dos Democratas, de apresentar, o único candidato que poderia perder para Donald Trump fracassou miseravelmente, aconteça o que acontecer a seguir.
Melhor os partidos europeus meterem logo na cabeça que o centrismo não é mão vencedora contra o populismo de direita. Nesse caso, os macaquinhos amestrados nos EUA até já sabiam disso, mas resolveram pôr à prova a lei da autodestruição de Einstein. Repetir sempre o mesmo movimento, sempre e sempre, e esperar resultado diferente, é a própria definição de doideira.
Tudo que acima se lê é verdade, não importa qual seja o resultado final do imbróglio.
A descarada conferência de imprensa de Trump, na qual ao mesmo tempo declarou vitória e fraude, é coisa de populista de direita. E cronometrada à perfeição – no momento em que ele estava à frente no cinturão da ferrugem do meio-oeste, e quando aquele inexplicável ‘abandono’ da contagem durante a noite era momento adequado para dizer o que disse. O homem pode ser perfeito safado, mas não é estúpido.
Trump triplicou a maioria que tinha na Florida e venceu confortavelmente Texas e Ohio, precisamente onde a elite dos ‘analistas’ de jornal e TV disse que ocorreria o exato oposto. Parece óbvio que os centristas liberais dos EUA absolutamente não conhecem o próprio país. Os salões políticos da costa leste e da costa oeste – essa gigantesca bolha autorreferente – ruíram.
O homem que governou a catástrofe do coronavírus, que governa uma avalanche de desemprego em massa, miséria em massa e níveis extremos de fome e multidões de desabrigados que vivem nas ruas em completo desamparo… Pois venceu, sabe-se lá como. Ainda que, sim, sim, ok, depende de o que você entende por ‘venceu’.
Daqui, agora, a coisa vai para a Suprema Corte, recheada a ponto de quase explodir, de juízes conservadores, feito um peru de Natal gigante. É de rolar de rir.*******
[1] George Galloway foi deputado ao Parlamento Britânico durante quase 30 anos. Apresenta vários programas de TV e rádio, com destaque para MOATS, “Mother of All Talks Shows, em RT. É film-maker, escritor e orador renomado. Está no Twitter, @georgegalloway.
Foto: The Global Herald
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