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Declaração do Representante Permanente da Federação Russa Vassily Nebenzia, antes de o Conselho de Segurança da ONU votar proposta de Resolução sobre Idlib apresentada por Bélgica, Alemanha e Kuwait

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Representação Permanente da Federação Russa à ONU (ing.), 19/9/2019, 
Tradução não oficial, apenas para ajudar a ler 

Estamos para votar proposta de resolução apresentada pelos “humanitários cossignatários”– Kwait, Alemanha e Bélgica. De início, cuidemos de definir com precisão os objetivos aos quais visam e que esses autores promovem. 

Desde o início das discussões, esses autores muito se empenharam para nos convencer de que são movidos exclusivamente por considerações humanitárias, que jamais teriam perseguido objetivos ocultos e nunca lhes passou pela cabeça minar a unidade desse Conselho de Segurança. Tivesse sido assim, sem dúvida apoiaríamos o texto. 

Mas, lamentavelmente, sejam os conteúdos da proposta seja o processo de promover aqueles conteúdos definem sem qualquer ambiguidade os reais objetivos de nossos colegas: salvar os terroristas internacionais entrincheirados em Idlib e hoje ‘ameaçados’ de derrota esmagadora; e apresentar Rússia e Síria como “culpados do que está acontecendo em Idlib”.

Permitam-me destacar desde o início: foi precisamente esse desinteresse dos autores dessa proposta, pela necessidade de dar combate incansável a terroristas, que se tornou a linha divisória que nos impede de apoiar a proposta que temos sobre a mesa. Ao fazê-lo, os “humanitários cossignatários” tentam ignorar as decisões já aprovadas nesse Conselho de Segurança. Embora nos convoquem a observar o memorandum de Sochi de 19/9/2018, aqueles coautores teimosamente se recusam a respeitar a determinação chave daquele documento – o cessar-fogo não se aplica a grupos terroristas.

Durante todo o período de discussão da proposta foi sempre impossível nos livrar de uma sensação de déjà vu. Surtos de atividade humanitária de nossos colegas coincidem estranhamente com derrotas dos terroristas em outra região na Síria que os terroristas haviam capturado. Foi o que aconteceu no caso de Aleppo e de Ghouta Ocidental. Agora, está acontecendo também em Idlib. Os senhores cantam sempre a mesma cantoria, e repetem, e repetem. Cada vez que as tropas governamentais sírias aproximam-se de esconderijos de terroristas, começam as ações da oposição contra o “regime Assad”.

Em Idlib, como recentemente disse nosso colega britânico, tentando nos persuadir, haveria mais criancinhas que terroristas. E começam as ‘estatísticas’ absolutamente inacreditáveis e sem qualquer prova, sobre supostos movimentos populares de massa. Para onde se movimentam essas massas? Para onde voltam depois do movimento? Ao citar a população de Idlib, cada fonte (inclusive fontes da ONU), oferecem a cada vez números diferentes, diferenças de várias centenas de milhares. Além disso, começamos a ouvir ‘advertências’ de que ‘Hayat Tahrir al-Sham’ que está entrincheirado em Idlib seria hoje organização “emancipada”, já estaria vivendo sob estrutura responsável que garantiria vida pacífica e próspera e teria até alguma espécie de administração civil. Ouvimos precisamente as mesmas histórias também sobre o movimento que ali estava antes de ‘Hayat Tahrir al-Sham’: ‘Al-Nusra’. Todos sabemos que esses dois grupos são definidos como organizações terroristas por esse Conselho de Segurança.

Há mais um aspecto, não menos importante. Os “humanitários cossignatários” lançaram sua proposta de resolução e tentaram acelerar-lhe a tramitação, recorrendo a notícias sobre baixas massivas na população civil em Idlib. A realidade é bem outra.

Para começar, não há operações massivas em andamento em Idlib nem houve em tempos recentes. A província respeita o cessar-fogo, que só é violado ocasionalmente sempre pelos terroristas. Em segundo lugar, reinam muitas dúvidas sobre a credibilidade dos dados que jorram para as mídias-empresas de massa, e em seguida reaparecem aqui, nas declarações de colegas nossos nesse Conselho de Segurança. Dia 16 de setembro, 2ª-feira, tivemos conferência detalhada com jornalistas, na qual, baseados em dados irrefutáveis e não refutados, destacamos que os casos mais “high-profile” de supostos ataques por russos e sírios a instalações civis em Idlib são mentira e foram forjados; e que o mecanismo de desconflitação foi usado para promover desinformação.

Hoje, a ilustre representante dos EUA abriu sua fala com ‘notícias’ de ataques aéreos contra hospitais. Ms.Mueller só fez apontar a mudança em campo que ocorreu depois de 31 de agosto. Dado que voltamos a falar sobre hospitais, ofereço-lhes dois exemplos que já citamos na conferência de imprensa:

“O ‘hospital’ que teria sido bombardeado em Kafr-Zeita sempre foi um depósito de medicamentos, que os terroristas cavaram a quatro quilômetros do hospital. Outro suposto ‘hospital’ em Ma’arat An-Numan, que também teria sido bombardeado, é um posto policial distante dez quilômetros do verdadeiro hospital. O posto policial era usado como depósito de armas. Além do mais, nem os verdadeiros hospitais, que lá estão, intactos, nem o depósito de medicamentos e o posto policial foram bombardeados”.

Todos esses dados nos foram entregues mediante o mecanismo de desconflitação da ONU, que os recebeu de fontes confiáveis em Idlib, dado que sabemos que a ONU não tem presença em campo em Idlib. Só no mês de julho, recebemos 12 coordenadas que, mesmo assim, eram falsas. Mostramos imagens tomadas antes e depois dos supostos ataques. Lá se veem intactos os prédios e outras instalações, inclusive instalações médicas.

Compreendo que essa informação seja desagradável e nada confortável para os senhores. Não é coincidência que nenhum veículo da mídia ocidental nada tenha publicado sobre esses casos. Concordamos quanto ao fato de que o conflito sírio não tem solução militar, só tem solução política. Com vista a facilitar o processo de acordo político, não faria mal algum que todos descartássemos todas as informações forjadas e ilegais que cheguem da Síria.

Ilustres colegas, estamos convencidos de que não podemos nos deixar guiar por desinformação e mentiras, quando se tomam decisões nesse Conselho de Segurança; por mais valiosas que sejam, para alguns, todas as mentiras e toda a desinformação. 

É inaceitável e imoral especular sobre os sofrimentos da população civil que permanece como reféns dos terroristas que alguns de nossos colegas ocidentais salvaguardam e patrocinam tão atentamente. 

Além do mais, todos nós compreendemos que a posição armada e engatilhada de nossos colegas ocidentais, a qual exibem e mantêm desde o primeiro momento, e jamais mudaram ao longo de todo nosso trabalho sobre a proposta, deixa ver seus verdadeiros objetivos – conseguir que a Rússia mais uma vez tenha de usar seu direito de veto em temas relacionados à questão síria. 

Dissemos aos coautores da proposta, desde o primeiro momento, que, na forma inicial, a proposta deles jamais seria aprovada. Sabiam disso naquele dia, e sabem hoje. Mesmo assim, apesar de nossos alertas, puseram em votação aquela proposta de resolução – e assim atacaram deliberadamente a unidade desse Conselho de Segurança. 

Tenho uma pergunta a fazer aos autores dessa proposta: os senhores trabalham para alcançar o quê e o que realmente alcançarão com o movimento de pôr a proposta em votação? Que sinal enviam à comunidade global? Querem nos ver usando o direito de veto precisamente no mês em que a Federação Russa assumirá a presidência desse Conselho de Segurança?[1]  É assim que querem marcar o início da Semana de Alto Nível [ing. High-Level Week]? É a contribuição que têm a dar para o estabelecimento da Comissão Constitucional?

Conclamo as delegações que trabalham a favor da paz na Síria e a favor de se despolitizar o dossiê humanitário a se unirem a nós e votarem contra a proposta trazida a esse Conselho pelos “humanitários cossignatários”.*******


[1] A presidência do Conselho de Segurança da ONU é ocupada em sequência, por cada um dos estados-membros temporários ou permanentes, na ordem alfabética dos nomes dos estados, escritos em inglês. A partir da sessão inaugural do período 2019-2010, de setembro a dezembro de 2019, estará na presidência o representante da Federação Russa (Russian Federation, ing.), que sucedeu o representante da Polônia. Detalhes aqui [NTs].

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