22/4/2020, The Saker, Unz Review
Anglo-sionistas lançam Operação Psicológica contra a China
22/4/2020, The Saker, Unz Review
Talvez a narrativa de “culpa é dos russos” tenha azedado. Ou, quem sabe, os líderes do Império deram-se conta, afinal, deque a China é ainda mais perigosa para o Império, que a Rússia. Mas meu palpite é simplesmente que os anglo-sionistas estão enlouquecendo com a desmoralização do “pleno espectro” que sofreram, quando ficou visível o impressionante quadro de erros (médicos e, ainda piores, políticos) na gestão da crise socioeconômica induzida por essa pandemia; agora, por isso, estão distribuindo acusações para todos os lados (inclusive entre eles mesmos).
A Rússia desempenhou papel crucial aqui, dado que foi na guerra informacional do Império contra a Rússia que os líderes imperiais apareceram com o que hoje chamo de “regras Skripal para validar provas”, também chamadas “altamente provavelmente”. É o mais recente princípio aceito subservientemente por todos os europeus em nome da “solidariedade” (ser solidários com o quê, isso raramente é especificado), e pareceu, digamos assim “simploriamente razoável” que funcionasse também dessa vez. Outra vez, não estou pessoalmente convencido disso, não, de modo algum. Muita coisa mudou ao longo dos dois últimos anos: não só os europeus eventualmente descobriram o quanto supremamente estúpido e inacreditável foi todo o conto de fadas Skripal, mas o nível de desagrado e até de ódio contra Trump e os EUA cresceu muito. Além do mais, a China tem muito mais a oferecer à Europa, que os Estados (des)Unidos em processo de desintegração. – Assim sendo, porque se pôr ao lado do perdedor? Por fim, mas com certeza não menos importante, os europeus descobrirão (e alguns já descobriram), que os EUA literalmente não dão a mínima não só aos europeus comuns, mas tampouco dão qualquer importância as classes governantes na Europa.
BARRA LATERAL
Estudo histórico rápido mostra que quando elites exploradoras dão-se bem, elas apoiam-se fielmente umas as outras; mas quando as coisas começam a ir abaixo, elas imediatamente se põem umas contra outras. O mais recente exemplo desse fenômeno é o cisma nas elites governantes nos EUA, as quais, desde a eleição de Trump, imediatamente pularam umas contra outras e hoje lutam furiosamente como “aranhas numa lata” (para usar uma expressão russa). Isso é tão verdade que pode até ser usado como confiável ferramenta de diagnóstico: quando seus inimigos estão unidos, eles provavelmente estão confiantes na própria vitória, mas quando se voltam uns contra outros, você *sabe” que as coisas estão muito feias para seus oponentes. Assim também, se vê hoje como os europeus do sul estão realmente mais furiosos a cada dia com os “aliados nortistas, da UE” (Macron parece estar entrando em fila atrás de Trump, mesmo que se sirva de linguagem mais cuidadosa e diplomática). Por fim, o modo como a CIA faz uma política exterior; o Pentágono, outra; e o Departamento de Estado, uma terceira (ainda que se limite a sanções e a acusações sem provas) diz muito do que é preciso saber para ver o quanto é hoje profunda, a crise sistêmica do Império.
Embora reste bem pouca gente realmente inteligente no governo dos EUA, ainda há muitos do tipo “horizontalmente espertos”, e não é preciso muito tempo para que percebam que essa pandemia deu-lhes uma oportunidade de ouro para jogar nas costas da China todos os erros e fracassos dos EUA. Os elementos? São até simples:
1. A propaganda anti-chineses tem longa história nos EUA e foi realmente fácil reacendê-la.
2. Muitos norte-americanos têm reação completamente irracional à palavras “comunista”, de tal modo que é realmente fácil para qualquer panfleto de propaganda pró-EUA mencionar o Partido Comunista da China e a palavra “mentiras” na mesma frase e soar crível, não importa o que que digam frase e panfleto (do tipo, digamos, de prova factual).
3. A plutocracia dos EUA está apavorada com o poder econômico e industrial dos chineses, daí a vilificação de empresas como Huawei ou DJI que são declaradas ameaça à segurança nacional dos EUA. Jogue todas as culpas sobre os chineses, e os oligarcas norte-americanos amarão!
4. China e Rússia estão num relacionamento que é até muito mais profundo que uma aliança. Chamo de “simbiose”; os chineses falam de “parceria estratégica ampla de coordenação para a nova era”; os russos falam de uma “aliança crucial”. Os termos realmente pouco importam aqui; o que interessa é que Rússia e China estão lado a lado (é o que dizem com a palavra “coordenação”) contra o Império e que as tentativas (admitidamente poucas e canhestras) dos EUA para quebrar aquela aliança falharam completamente.
5. Como com qualquer nova pandemia, a China precisou de algum tempo para perceber a natureza do que estava acontecendo, e tornou-se muito fácil acusar a China de ter omitido informações deliberadamente (ao mesmo tempo em que os EUA apagam o fato de que a China informou o mundo já dia 31/12; também é omitida a presença de uma delegação multinacional da Organização Mundial da Saúde para investigar a questão. Na realidade, pode-se bem acusar a China de ter sido aberta DEMAIS, e de ter permitido que circulassem várias estimativas e hipóteses, mesmo antes de o governo chinês ter plena compreensão e conhecimento de todos os fatos. É caso perfeito de errado se faz e errado se não faz.
6. A cultura política dos EUA indica que 99,99% dos norte-americanos acreditarão em literalmente QUALQUER mentira que ouçam, não importa o quanto seja autoevidentemente estúpida, sobre o resto do mundo, para não ter de aceitar qualquer verdade incômoda sobre os EUA. Converter qualquer potência em bode expiatório, especialmente se for potência comunista, obtém reação automática de aprovação, da vasta maioria dos norte-americanos.
7. Quando a Organização Mundial de Saúde claramente não se deixou enganar pela propaganda dos EUA, Trump fez amplo movimento para suspender o financiamento que os EUA dão à entidade. Mas dado que os EUA já devem milhões de dólares à OMS (50-200, dependendo de a quem você pergunta), ali estava um pretexto fácil para não pagar: acusar a organização de ser pró-China. É óbvio que Trump não tem qualquer serventia para a ONU, se não como ‘saco de pancadas’, e ali estava via perfeita para atacar novamente a organização.
8. Como em qualquer evento assustador, um verdadeiro tsunami de boatos completamente sem fundamento e absolutamente idiota começou logo que se tornou claro que se tratava de evento amplo e toda a máquina de propaganda dos EUA foi posta a falar em tom sério, sobre alguns desses rumores e fazer parecer que a mídia estaria “apenas noticiando”, não plantando histórias.
9. A China é também grave ameaça aos interesses dos EUA na Ásia, e essa pandemia ofereceu perfeita oportunidade para que os EUA apresentassem matérias vindas de Taiwan como se viessem da China (truque já velho). Quanto ao governo de Taiwan, estava mais do que feliz por encontrar mais um pretexto para odiar a China, e também aqui, nada de novo.
10. Por fim, economistas norte-americanos não tardaram a perceber que a pandemia teria efeito devastador sobre a “melhor economia na história da galáxia”, e culpar a China preventivamente por tudo que aconteça é a via perfeita para que Trump e seus patrões neoconservadores consigam afastar toda e qualquer culpa para longe deles.
As ‘notícias’ que foram então plantadas foram verdadeiramente sensacionais. Aqui, algumas das minhas favoritas
· FBI Diz que Estados Estrangeiros Hackearam Centros de Pesquisa nos EUA Procurando Vias para o COVID-19 (embora esse artigo acuse o Irã, não Rússia ou China, o artigo fixa muito bem o tom de “estamos sob ataque”: observem o plural em “Estados Estrangeiros”).
· EUA Lança ‘Investigação de Escala Ampla’ no Laboratório Wuhan
· Algum estudo provou que o coronavírus seria criação humana, como disse um especialista francês vencedor de Prêmio Nobel de Medicina? (Movimento excelente, dá autoridade ao argumento, citando uma celebridade, independentemente de haver mais vozes críveis que já disseram que essa teoria é bobagem).
Há muitas mais, tenho certeza de que vocês também viram.
Eventualmente e inevitavelmente, essa Operação Psicológica [ing. PSYOP] levantou a bola, e a FOXnews (é lógico) levou ao ar essa verdadeira obra-prima: “Sen. Hawley: Que as vítimas do coronavírus processem o Partido Comunista Chinês.” Sem dúvida, brilhante. “Perdi meu emprego, que os malditos comunistas chineses me indenizem” é música aos ouvidos de muitos norte-americanos.
Nesse momento, a maior parte das declarações feitas pelos EUA são simplesmente mentiras, mas conforme a China, com o tempo passar a distribuir informação mais correta e acurada, as novas estatísticas, corrigidas e atualizadas serão imediatamente apresentadas como prova de que, inicialmente, os chineses mentiram deliberadamente, não como resultado de os próprios chineses terem gradualmente conseguido montar quadro mais fidedigno do que realmente se passou. Outra vez, é caso típico de errado se não fez, e errado se fez.
Devo mencionar que há outra razão que pode ter contribuído para a decisão dos EUA de culparem a China: ainda não se sabe com clareza de onde veio o vírus, mas uma possibilidade é que se tenha originado nos EUA e levado para a China por norte-americanos (não se discute aqui que tenham levado deliberadamente ou não). Quanto às matérias que dizem que os EUA estão deliberadamente encobrindo a real magnitude do desastre nos EUA, são completamente ignoradas.
Além disso, é agora já dolorosamente óbvio que políticos norte-americanos interpretaram a situação de modo totalmente errado e começaram por declarar que, ou seria problema da China, ou que “não seria pior que uma gripe sazonal”, ou as duas coisas. É o caso mais recente do que chamo de o “messianismo narcisista dos EUA” levando líderes norte-americanos a crer na própria propaganda, só para logo descobrir que a realidade ainda existe lá fora e é dramaticamente diferente dos delírios e ilusões cultivadas pela maioria dos norte-americanos.
Agora, todos esses políticos norte-americanos (Republicratas e Demoblicanos) todos estão tendo de correr e cobrir os respectivos traseiros. E que melhor meio de conseguir isso, que culpar a China, por tudo?
Como já disse acima, é esperto, mas definitivamente não é muito inteligente.
Os EUA já estão presos numa guerra que não conseguirão vencer, contra a Rússia (como sempre lembro a todos, essa guerra é 80% guerra informacional, 15% econômica e apenas 5% cinética). Abrir um “segundo front” em ampla escala faz sentido em termos de expediente político de curto prazo, especialmente em ano eleitoral, mas no longo prazo é desastre e é autodestrutivo. De fato, se há algo que a história ensina, é que abrir um segundo front, quando você não consegue dar conta do primeiro, é suicídio. Mas quem se interessa por história, sobretudo nos “Estados Unidos da Amnésia”? E, além do mais, quando você é ao mesmo tempo totalmente excepcional e totalmente superior, por que você se interessaria pela história de povos “deploráveis” e de países por aí, no mundo exterior?? Basta chamá-los de “cloacas” e agitar sua bandeirinha (fabricada na China). Eis o que atualmente passa por “comportamento presidencial”…
Independente de tudo que acima ficou dito, o momentum dessa campanha sinofóbica é forte demais para ser revertido ou detido. E dado que a maior parte da classe política norte-americana a apoia, a campanha provavelmente prosseguirá, mesmo depois das eleições presidenciais nos EUA (supondo que aconteçam).
Seja como for, ainda permanece a questão: o que aconteceu realmente? Qual a verdade?
A verdade é que ninguém realmente sabe. Provavelmente só em muitos anos será possível ter um quadro completo, e ainda falta mais tempo para que se chegue a números corretos. Que números corretos? Bem, TODOS os números: portadores, resistência, grupos etários, comorbidades, características precisas do vírus (e de suas várias mutações), como efetividade de vários testes, que medicação antiviral pode ajudar, efeitos colaterais possíveis, se a vacina BCG de algum modo ajuda o corpo a combater o vírus, etc.
Nesse momento, não creio que alguém realmente saiba. Até a porcentagem de portadores assintomáticos muda muito, dependendo de quem fale. Com certeza, alguns palpites estão mais próximos da verdade, que outros, por definição, mas ainda não há qualquer certeza quanto a quais sejam.
O traço chave para manter em mente agora é que há pouco do que hoje se vê que tenha qualquer traço em comum com qualquer investigação científica. O que se vê é uma tentativa para usar essa pandemia para objetivos políticos, financeiros e geoestratégicos.
E por favor, não pense que é só Trump! Só lembre o que Pelosi dizia, ainda no fim de fevereiro!
Isso, quase dois meses depois de a China ter avisado à Organização Mundial de Saúde que havia em desenvolvimento uma grande crise!
Mas Pelosi, exatamente como Trump, só pensa em poder, dinheiro e influência, não na segurança dos “deploráveis” que os Democratas tanto odeiam (como os Republicanos também odeiam, claro, só não dizem tão abertamente quanto Hillary; mas aquele “pegue/pego elas pela b*ceta” [“grab them by the pussy”] de Trump diz tudo que você tem de saber sobre o quanto Trump respeita seres humanos!).
Então há outro risco muito real: conforme a situação piora e piora para os EUA e, especificamente, para a reeleição de Trump, ele bem pode decidir fazer o que muitos políticos fazem em situação desse tipo: começar uma grande guerra. Antes da pandemia, os EUA claramente não tiveram estômago para iniciar uma guerra com o Irã, mas agora que a pandemia já está incapacitando a economia mundial e que os lados feios do sistema capitalista transnacional já se vão tornando óbvios, eu não descartaria que Trump inicie uma guerra com o Irã, só para desviar as muitas acusações contra os EUA/Trump. O Idiota-em-Chefe ordenou agora que as forças da Marinha dos EUA partam para a costa do Irã para – não é piada, é sério! – “atacar, derrubar e destruir” qualquer embarcação iraniana armada que “assedie” [ing. “harass”] a Marinha dos EUA.
Aparentemente, os EUA ainda não conseguem compreender que se qualquer embarcação dos EUA executar tal ordem, imediatamente se verá tendo de lidar com um enxame de mísseis iranianos antinavios. Claramente, narcisismo messiânico e furiosa megalomania impedem que Trump compreenda que os iranianos são seres do mundo real, que realmente falam sério e que, diferentes dos EUA, modelaram cuidadosamente as consequências de qualquer guerra entre Irã e EUA e, ainda que não venham a provocar tal guerra, combaterão se for necessário, com poder para se manterem infinitamente maior que os EUA.
BARRA LATERAL
Como típico político norte-americano agitador de bandeirinhas, Trump provavelmente pensa que, se tudo for para o inferno, os EUA ainda podem bombardear o Irã com bombas atômicas, e vencer a guerra. Está certo quanto à primeira parte, mas muuuuuuito errado quanto à outra. Se se usarem artefatos nucleares contra o Irã, nesse caso haverá guerra total e longa para chutar ambos, os EUA e a entidade sionista, para fora do Oriente Médio. Mas esse já é assunto para outro dia.
Políticos dos EUA me fazem pensar numa pessoa que viva numa cabana no Ártico e decida pôr fogo na cabana, para conseguir o aquecimento muito necessário: claro que a estratégia funcionará por algum tempo, mas ao custo de desastre posterior muito maior. É o que mais ou menos TODOS os políticos dos EUA fizeram com essa pandemia, e é por isso que jamais aceitarão qualquer responsabilidade por coisa alguma.
Observem o burrinho à direita.
Não seria o perfeito mascote e símbolo para os dois partidos políticos dos EUA e para os muitos políticos que não conseguem pensar em outra coisa que não seja vestir o burro?
Há mais uma coisa que gostaria de mencionar aqui: há muita gente que gosta de anotar cuidadosamente todas as circunstâncias em que alguém previu que essa pandemia aconteceria. Tomam tais declarações de alerta como prova de que estaria em curso alguma conspiração. A verdade é que a comunidade científica e até o público em geral (pelo menos aqueles poucos que ainda leem livros) sabem perfeitamente que era só questão de tempo, antes de que acontecesse uma pandemia, porque nossa sociedade tornou inevitável esse tipo de evento. Dou-lhes um exemplo:
Nos idos de 1995, a jornalista norte-americana Lorrie Garrett publicou excelente livro intitulado “The Coming Plague: Newly Emerging Diseases in a World Out of Balance” [A próxima praga: doenças que emergem recentemente num mundo em desequilíbrio], no qual explicou por que e até mesmo como emergiria naturalmente um epidemia global, dada a própria natureza de nossa sociedade moderna. Recomendo muito esse livro, apesar de ter sido escrito há um quarto de século: é livro muito bem escrito, fácil de ler e argumenta fortemente a favor de que essas pandemias seriam inevitáveis (e sem precisar recorrer a teorias não provadas de guerra biológica).
A história mostrará que todos nós, o planeta todo, não levamos a sério nem essa advertência, nem muitas outras. Pergunte você mesmo, o que é mais fácil para um político: aceitar que toda nossa ordem sociopolítica é insustentável e muito perigosa (ou “desequilibrada” para usar expressão de Garrett), ou atribuir toda a culpa aos comunistas chineses e a seu “programa secreto de bioguerra”?
Acho que a resposta é autoevidente.
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