South America

O caso da águia de contos de fadas do FMI, nas notas de rublo

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5/1/2020, Mikhail SovetskyVineyard of the Saker

traduzido por Valentina e legendado (ing.) por Leo. Transcrição ao ing., aqui traduzida

Se você examinar atentamente uma cédula de dinheiro dos soviéticos, verá que a cédula foi emitida pelo Banco do Estado, como se lê ali claramente. Mas nas cédulas atualmente em circulação na Rússia, o que se lê é simplesmente “Banco da Rússia”. Além disso, vê-se escrito nas notas soviéticas que àquela cédula corresponde um lastro em ouro, metais preciosos ou títulos do Estado soviético. No entanto, nas cédulas do rublo russo hoje em circulação, já não se lê aquela declaração. E também havia o brasão, que também sumiu da atual cédula de dinheiro russo. Hoje, só resta ali uma águia de duas cabeças, que se assemelha ao brasão do governo interino da Rússia de 1917.

E muitos cidadãos russos estão curiosos sobre por que teria sumido o brasão, das atuais cédulas de rublos russos? A pergunta foi feita a Putin, que disse não saber a resposta.

Pergunta a Putin, vinda da plateia: “Uma pergunta muito importante: quando haverá um brasão russo nas cédulas de dinheiro russo?”

Vladimir Putin: “Essa decisão é tomada pelo Banco Central, de acordo com a Lei da Federação Russa. Nunca pensei sobre isso. Prometo que agora pensarei.”

Em 2016, o brasão da Rússia começou a aparecer nas cédulas de dinheiro russo. O que trouxe ainda mais perguntas. E é assunto que também me interessa. E têm aparecido explicações para o ‘fenômeno’. Para alguns, a Rússia não poderia imprimir cédulas de dinheiro com o próprio brasão russo, porque perdeu a Guerra Fria. E Gorbachev assinou um ato de capitulação que foi oficialmente confirmado. Em 1991, 25 anos após a capitulação da URSS, porém, aquele acordo de capitulação expirou. A partir de então, a Rússia já poderia imprimir o brasão russo nos próprios rublos.

A realidade parece ter pouco a ver com isso.

Sim, é verdade que a União Soviética perdeu a Guerra Fria, porque foi traída pela elite soviética. Gorbachev e sua equipe traíram o país, pode-se dizer, em etapas. Em 1989, durante a reunião de Malta, Gorbachev consumou a traição contra a URSS e seus aliados. Principalmente porque não teria havido documento oficial assinado, predominou a versão segundo a qual não teria havido ato de capitulação. Mas é possível que esse documento exista e que esteja muito bem protegido por rigoroso sigilo. Em outras palavras, oficialmente não existem documentos aos quais o público tenha acesso. Sobretudo porque aquele documento afirma especificamente que o ato de capitulação expiraria – e expirou – 25 anos depois de assinado. Se esse documento estivesse disponível para o público, essas informações seriam assunto dos livros escolares de História da Rússia.

Até aqui, a derrota da URSS na Guerra Fria tem toda a aparência de efeito de o país ter sido traído pela elite soviética. E após a tal derrota na Guerra Fria, a URSS recebeu todos castigos de país derrotado em guerra: ocupação (soldados da OTAN estão presentes nos territórios que corresponderam à URSS); reparações cobradas e pagas (lembram o acordo de urânio? O “Programa Megatons por Megawatts”); todos os ativos da URSS estão postos sob jurisdição do Ocidente, basicamente no exterior (ing. offshore zone); e, finalmente, a Rússia continua a ser governada por estrangeiros (a Constituição da Rússia foi escrita por consultores ocidentais).

Para resumir: a Rússia seria apenas um pedaço de um país que foi derrotado na Guerra Fria. Obviamente, o vencedor passou a controlar a impressão da moeda. E o nosso Banco Central trabalha até hoje a favor dos interesse de EUA e Europa.

Valentin Katasonov (economista): “O Banco Central da Rússia é, na realidade, uma filial do Sistema de Reserva Federal dos EUA [ing. US Federal Reserve SystemFed]. O Banco Central da Rússia sequer é Banco Central. A isso se chama controle sobre a moeda. Na prática, há um bloqueio monetário. Há exatamente tanto dinheiro na economia quanto moeda estrangeira de reserva. ”

Sabendo disso, pode-se explicar por que não há brasão nem qualquer palavra que implique qualquer garantia que o Estado dê à moeda russa, impressa na cédula. Mais concretamente, comecemos pela “cota d’armas”, o brasão.

O Banco Central explicou, primeiro, que não se trata do brasão do governo provisório de 1917, mas de simples desenho do pintor russo Ivan Bilibin. Ivan Bilibin ficou conhecido como ilustrador de livros. Suas mais conhecidas ilustrações encontram-se em tradicionais contos de fadas russos. 

Conforme explicações oferecidas pelo Banco Central, o brasão do governo provisório da Rússia em 1917 e a águia de duas cabeças do Banco Central da Rússia seriam desenhos diferentes de um mesmo ilustrador – Ivan Bilibin. E o Banco Central não explica que diferença há entre os dois desenhos.

Mas, por que, exatamente, o brasão do governo interino da Rússia de 1917 apareceria na moeda russa, em lugar do brasão atual da Rússia?

Para começar, como Putin afirmou, as decisões sobre o que imprimir nas cédulas de nosso dinheiro são todas baseadas no que o Banco Central deseja. 

Nosso Banco Central, baseado na Constituição da Rússia, é independente do governo e do presidente, e não subordina suas atividades a qualquer autoridade eleita. [Como o Fed, nos EUA (NEds)]. 

Em segundo lugar, o Banco Central escolheu seu símbolo em 1992, quando ainda não havia sido criado o atual brasão da Rússia (foi criado em 1993.) E, em termos puramente teóricos, poderiam ter escolhido qualquer b brasão, até o brasão dos EUA. Pensando bem, teria sido mais honesto.

Ok, mas, por que, afinal, o brasão russo apareceu em moedas russas, em 2016? Oficialmente, ninguém dá qualquer explicação. Na verdade, com base na lei russa e em termos oficiais, o Banco Central já poderia imprimir o brasão da Rússia em notas de rublos, desde 25/12/2000. 

Portanto, a explicação de que o Banco Central não poderia imprimir o brasão da Rússia na própria moeda, porque assim estaria determinado em algum ato oficial de capitulação, não corresponde à verdade. Para alguns, a explicação estaria no fato de que incluir o brasão da Rússia, em 2016, na moeda russa, teria sido ‘cortesia’ de nacionalistas que trabalham no Banco Central russo [que é independente dos governos russos eleitos, como o Fed, dos EUA].

Pessoalmente, não me convence. O tal brasão russo não afeta a política financeira, nem afeta positivamente coisa alguma. Bem diferente disso, parece ter função de canção de ninar para entorpecer os cidadãos.

Se os tais nacionalistas que haveria no Banco Central metessem o brasão dos EUA na moeda russa, seria um milhão de vezes melhor, porque pelo menos as pessoas teriam chance justa de compreender o que se passa. Nada disso. É o contrário: o Banco Central está-se fazendo passar por Estado, o que ele não é.

Na realidade, o Banco Central da Rússia é organismo à parte – um parasita que suga o povo russo, um parasita que sufoca a economia russa.

E então, por razões desconhecidas, o conselho de administração do Banco Central decidiu imprimir um brasão russo no dinheiro que emite. Suponho que a intenção tenha sido hipnotizar os cidadãos, fazê-los dormir: “Tudo está bem, o banco é russo, não se preocupe.” Acho que essa, pelo menos, é a ideia principal.

Qual é o problema real, do ponto de vista dos cidadãos russos?

O problema é que o Artigo 13 da Constituição da Rússia proíbe todas as instituições nacionais: “Nenhuma ideologia pode ser estabelecida como ideologia de Estado ou ideologia obrigatória”. Sem essas instituições nacionais, indispensáveis para construir qualquer estratégia de desenvolvimento, o Banco Central e outras ferramentas de estado, na Rússia, são de fato gerenciadas por instituições internacionais como o Fundo Monetário Internacional.

E as recomendações do FMI estão em perfeita conformidade com o Artigo 15 da Constituição da Rússia (princípios e normas geralmente reconhecidos do direito internacional são parte integrante do sistema jurídico da Rússia.) 

Implica dizer que nosso Banco Central ‘independente’ está sendo administrado por nossos inimigos geopolíticos e, naturalmente, em benefício deles, não dos russos. Isso é feito vinculando-se a emissão do rublo russo à moeda do inimigo.

Quem faz esse tipo de serviço no Banco Central é o chamado de “Comitê Monetário” [no Brasil, é o Comitê de Política Monetária, do Banco Central, Copom*]. Na Rússia, chama-se “currency board”, o nome inventado pela Inglaterra para operar nas suas colônias.

Sergey Glazyev (consultor econômico de Putin) (vídeo, em 6’43, ru. com legendas em ing.): “O Banco Central da Rússia segue rigorosamente todas as recomendações do FMI. Na verdade, a Rússia não manda no próprio dinheiro, nem tem moeda própria. Recusamos crédito para a economia da Rússia e iniciamos o modelo favorito de gerenciamento de moeda do FMI: basicamente, o Banco Central imprime tanta moeda quanto temos de reserva. Que é sempre um pouco menos do que precisamos ter para fazer operar a economia.

Não se pode criar crédito, mas sempre se pode vincular a criação de dinheiro à compra de moeda estrangeira dos EUA e da Europa. E a economia seguirá o dinheiro. Recusamo-nos a administrar nosso próprio dinheiro como recurso de crédito; portanto, nos falta uma fonte de crédito, faltam investimentos. Então, nossa economia rende-se a forças externas.”

O que precisa ser feito para melhorar a vida na Rússia? E, aqui, não invento coisa alguma: estou citando palavras de estudiosos como Glazyev e Katasonov: precisamos mudar a política financeira do Banco Central. Isso é o mais importante. É necessário imprimir tanto dinheiro quanto seja necessário para nossa economia, e emprestá-lo com zero de taxa de juros. A emissão de dinheiro deve ser resultado do refinanciamento de bancos comerciais, ou o dinheiro emitido tem de ser lastreado em títulos do Estado, como é feito nos EUA e na UE. A moeda russa não deve estar ligada ao dólar como é hoje. No momento, a taxa de juros é de 6,25% e está em declínio. Mas isso não significa grande coisa para a economia da Rússia.

Para começar, se não houver o refinanciamento, não faz diferença qual seja a taxa de juros, mesmo que seja zero. Em segundo lugar, antes de 2014, a taxa de juros também estava diminuindo; e então subiu para 17%. Naquele momento foi necessário reduzir a taxa de juros; assim sendo, num período muito curto, a Rússia perdeu o que ganhara antes, ao longo de muitos anos. Entendo que os cidadãos comuns achem difícil compreender esses movimentos. 

Se você está interessado neste tópico, assista à entrevista de Katasonov e Glazyev (vídeo, em 6’43, ru. com legendas em ing.).

A essência disso é que nosso Banco Central está sufocando a economia russa ao não lhe dar crédito. A Rússia repousa sobre 1/7 de toda a massa terrestre do planeta. Possui enormes recursos, inclusive recursos humanos. Temos tudo de que precisamos para o desenvolvimento, exceto o item mais simples: dinheiro. É fácil para um estado imprimir dinheiro. A URSS imprimia todo o dinheiro de que necessitava. Agora, a China e os países desenvolvidos estão imprimindo o necessário para as respectivas economias. Mas a Rússia só imprime rublos correspondentes aos dólares e euros que tenha em reserva. Isso aconteceu como resultado da venda em liquidação, de nossos recursos – petróleo e gás.

Se o Banco Central for nacionalizado, haverá trilhões de rublos inundando nossa economia. Será um aumento do PIB não em 1,2% como é agora, mas em 8% ao ano. Criará negócios nacionais, classe média, empregos e melhores salários. Tudo isso é real. Foi calculado pela Academia Russa de Ciências.

Glazyev: “Se iniciarmos essa estratégia, então, como mostra o cálculo, podemos levar a economia a crescer 8% do PIB por ano. Não 2-3% ou 1,2% como alguns projetam, mas 8% e mais.”

Para tanto, temos de mudar o sistema. No momento, temos um sistema colonial: a Rússia faz parte do mundo unipolar norte-americano. Lentamente, a Rússia caminha rumo ao colapso. É óbvio, impossível negar.

O PIB da Rússia aumenta 1,2% ao ano, enquanto a média mundial é de 3,2%. Significa que a Rússia, em comparação com o resto do mundo, já está atrasada e mais se atrasa a cada ano. Não temos escolha e precisamos mudar o sistema. Ou nosso país continuará sendo esmagado. E se continuar esmagado, é 100% garantido que haverá guerras.

Império Russo esmagado – guerras; URSS esmagada – guerras; Ucrânia esmagada – guerras.

Se a Rússia for esmagada, pense bem: todas as repúblicas estariam bem com o que lhes restaria como resultado da dissolução?

Putin: “… E por isso [consequência do colapso da URSS] imediatamente surgiram “pontos quentes” militares. E ainda estão presentes entre repúblicas da antiga União Soviética e até dentro da Federação Russa, há 2.000 desses gatilhos, desses pontos que podem disparar a qualquer momento. Deixe-os entregues a eles mesmo por um segundo, e a coisa rapidamente sairá do controle.”

Vejam que agora, em muitas regiões, as tendências separatistas estão aumentando. A Rússia é mantida coesa por apenas uma pessoa.

Pode-se pensar o que se queira de Putin, mas até seus inimigos sabem e dizem que, quando Putin deixar o governo, as elites entrarão em guerra pelo poder. Pela autoridade que tem, Putin mantém tudo coeso e organizado. A negatividade que cresce no país explica-se porque a Rússia não tem propósito, não tem ideias. Nem cidadãos nem burocratas sabem o que procurar em suas vidas. Não há missão nem tarefa a cumprir.

Tudo isso porque a Rússia é país colonial.

O principal Artigo da Constituição da Rússia ainda proíbe que se definam missões próprias, tarefas nacionais nossas.

Temos duas entre as quais escolher: ou mudar o sistema e prosperar em um estado forte e estável, com alta qualidade de vida e bons salários, ou testemunhar o ocaso da civilização russa.

O que podemos fazer é o que já dissemos muitas vezes. Nós, cidadãos comuns, precisamos construir a opinião pública e exigir um referendo sobre a mudança da Constituição colonial ainda vigente na Rússia.

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* Copom, BR: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/copom

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